quarta-feira, 23 de abril de 2008

Paixão pela arte

Muitas vezes, durante este blog, utilizarei metáforas corporativas para ajudar a valorizar o artista e sua arte. Mas, nada do que eu disser, nada do que você ler aqui fará algum sentido se faltar um ingrediente básico: paixão. Sim, hoje eu gostaria de abordar um tema mais abstrato, sobre este sentimento que está acima de valores materiais e que independente da profissão ou arte, impulsiona seu receptor a continuar acreditando em seu sonho.

Certa vez, Carlos Drummond de Andrade, ao ser questionado sobre como um iniciante poderia se tornar um poeta, saiu-se com essa:

"Para que você quer ser poeta? Tudo o que você pensar em escrever em matéria de poesia, alguém, antes, já escreveu melhor do que você será capaz de escrever.”

Isso já seria o suficiente para abalar um ser desprovido de certeza e paixão pelo sonho em questão, e Drummond finaliza:

“Mas se, apesar de saber que não vai fazer poesia melhor do que os que vieram antes de você, mesmo assim você sentir uma necessidade absoluta de escrever, então escreva.”

Genial, não? E é esse o ponto, simples assim! Você tem que ter consciência de que sua música provavelmente não será tão inovadora, contestadora ou melhor do que a de muitos outros que vieram antes de você. Mas isso não significa que você não deva fazer música, afinal, sua arte tem de ser natural. Se você sente necessidade de se expressar através dela, você já tem um grande motivo para fazer música.

Inclusive, é bom ressaltar que os que vieram antes de nós são fontes inesgotáveis de aprendizado. A arte não envelhece e um bom artista sabe beber das fontes certas. Fazer boa música é ouvir muito, de tudo, o tempo todo e é bom ressaltar que não existe um parâmetro do que é boa música. Sem preconceitos, a música sempre é boa para alguém. A boa música é aquela que mexe com você. Quando ouvimos algo ruim, automaticamente aquilo nos incomoda, ou na pior das hipóteses, não causa reação alguma (existe coisa pior para um artista?).

O conselho que eu poderia dar a um músico na hora de fazer sua música, compor seu solo, fazer uma gig com os amigos é: tenha paixão, toque com o coração, seja você, em cada uma das notas que saem do seu instrumento. Deixe sua impressão digital registrada em cada trabalho.

Lembrem-se, os clássicos, sempre serão clássicos, mas a arte não é imutável e estática, está sempre à espera de novos talentos, de novos contestadores e artistas à frente de seu tempo. Com paixão, você terá dado um grande passo nesta direção.

Até a próxima!

segunda-feira, 7 de abril de 2008

Banda: Um trabalho em equipe!

Quantas vezes você não se questionou como um integrante de uma banda que fatura milhões resolve sair? Quantas vezes você não ficou sem entender como algumas bandas recusam contratos milionários para voltar à ativa? Claro que a resposta não é única para todas, mas afinal, o que acontece de errado no relacionamento entre os integrantes e que afeta a banda e tudo à sua volta?

Antes de qualquer coisa, devemos encarar o fato de que ser integrante de uma banda é como trabalhar em equipe, o que por si só já é um grande problema, pois partimos do pressuposto que cada integrante, como ser humano, é por natureza, questionador, necessita de incentivo e motivação, tem ego, opinião, dias bons, dias ruins, ou seja, multiplique isso por 5 e tenha a essência que leva muitas bandas a acabarem algo que muitas vezes parece irracional para quem está de fora.

Identificar os recursos ideais para se manter a harmonia e a produtividade de uma banda nem sempre é tarefa fácil. Como eu já disse em posts anteriores, não existe “for mula” mágica para nada neste mundo, mas podemos mapear alguns “mandamentos” do trabalho em equipe e adapta-los a uma relação entre músicos.

Vamos a eles:

1- Identificação da necessidade do trabalho em equipe: É importante questionar a validade de se trabalhar em equipe, seja por uma questão de performance, exigência do mercado ou mesmo necessidade interna do grupo.

Alguns artistas preferem trabalhos solo, produzir seu próprio trabalho e não ter envolvimento de outros músicos, justamente pelo fato de saberem o quanto têm de ceder para coexistir como banda. Mas há casos em que se abre mão do monopólio da obra para agregar valor ao resultado final, dividindo-se a criatividade na composição ou mesmo descentralizando o desgaste natural de produção com os outros membros da banda.

2- Identificação e desenvolvimento de líderes: Identificação dos profissionais com as características mais apropriadas para liderar o grupo e promover seu desenvolvimento.

Por mais que seja difícil ou pareça exagero, uma banda, assim como uma equipe, precisa de um líder. Em música, o ego de alguns integrantes pode fazer isso ruir, mas se desde o início, todos tivessem consciência de que alguém tem que tomar a frente para que as coisas aconteçam tudo seria mais fácil e sem traumas. É necessário que cada um se foque no que sabe fazer melhor. Há quem tenha mais contatos para indicar a banda, há quem conheça mais de arranjos, ou seja, sempre há alguma forma de fazer com que todos contribuam com a banda, além de tocar. E um líder pode fazer com que as ações individuais sejam canalizadas para um objetivo comum.

3- Entendendo as normas e regras: Todos devem conhecer plenamente quais são as normas, regras e valores da equipe para atuar de forma adequada e esperada, ainda que o grupo se renove.

Como eu disse acima, cada um deve ter sua função na banda, para fazer com que todos cresçam juntos. Embora utópico, uma banda não deve servir de palanque para apenas um músico se destacar, portanto, o lema dos três mosqueteiros é sempre bem-vindo: “Um por todos e todos por um!”.

4- Quando a equipe compete: Conhecer com quais equipes se está competindo e estabelecer estratégias de superação do competidor.

Não é um caso comum na música o termo “competição”, embora muitos “músicos” achem que a velocidade no instrumento seja um troféu, mas como toda equipe, temos que ter em vista alguns objetivos a serem alcançados e com objetivos traçados, pode-se criar uma competição saudável entre bandas, criando-se metas a serem atingidas ou mesmo, comparando-se com outras que atingiram o mesmo patamar.

5- Seleção da equipe e renovação: Definição das características adequadas para a composição do grupo, análise permanente sobre a avaliação da performance das pessoas e da equipe e renovação do grupo quando se fizer necessário.

Geralmente não se começa uma banda fazendo-se dinâmicas de grupo e seleção de Recursos Humanos para ver qual o melhor integrante para determinado instrumento, portanto, ao longo da vida em grupo, vão surgindo as diferenças e muitas vezes, estas diferenças levam ao desgaste. No caso de uma reestruturação, sugiro que todos os integrantes que ficaram, definam seus objetivos e escolham alguém que se encaixe no perfil destes objetivos. Normalmente, será o ponto oposto ao integrante que saiu. Mas o importante é destacar quais qualidades se espera desta nova pessoa e ao testar novos músicos, prestar muita atenção no ponto-chave que levou à saída do antecessor.

6- Construindo valores: O líder da equipe, bem como seus participantes, devem se dedicar a construção de valores e praticá-los para que o grupo assuma determinadas atitudes desejadas.

Determinar objetivos, metas e para isso, construir uma postura adequada àquela posição em que se deseja atingir. No post “Atitude x Imagem”, citei o quanto a imagem é importante para posicioná-lo como profissional. Isso serve tanto para um integrante quanto para toda a banda.

7- Desenvolvimento contínuo: Seja através de treinamentos, seja via experiências que permitam o aprendizado de novas técnicas, conceitos e metodologias que permitam as pessoas do grupo a desenvolverem novas habilidades.

Também já falei sobre este assunto no post “Desatualizar-se, nunca, Encostar-se, jamais!”, pois o músico reflete em sua música, a cultura que absorve do mundo, portanto, manter-se atualizado é a melhor forma de nunca envelhecer. Continue treinando, ouvindo o que está sendo produzido, assistindo, lendo... você é o que você sabe!

8- Motivação da equipe: Conciliar interesses da empresa e do grupo, com as aspirações individuais.

Esse é um tema dos mais relevantes quando o assunto é uma banda. Um músico deve saber que, uma vez fazendo parte de um grupo, ele é parte de um todo e suas aços repercutem para o restante, portanto, seja em suas atitudes ou tecnicamente falando, cada integrante deve jogar a favor do time. Se a técnica for essencial para destacar sua banda das outras, ok!, isso é positivo. Agora, se sua técnica estiver fora da proposta da banda, isso só trará desgaste e choque entre os interesses comuns.

9- Estabelecimento de estratégias: O grupo deve estar envolvido em pensar seu futuro, suas metas e avaliar seus resultados para estar comprometido com os desafios.

Seguindo uma estratégia comum, as chances de haver entrosamento entre os integrantes, é muito grande. Com estratégia, o grupo passa a agir pensando no futuro e as pequenas coisas do presente são apenas alicerce para um objetivo comum.

10- Avaliando o grupo e os resultados: A avaliação de performance do grupo e dos resultados permite que se possa corrigir o andamento das ações e manter a chama da motivação sempre latente.

Por fim, todos devem avaliar de tempos em tempos se os esforços foram válidos. Isso pode ser feito individualmente, onde cada músico estipula metas para alcançar em seu estudo, e avalia em determinado tempo o quanto evoluiu até em grupo, onde todos avaliariam se conseguiram alcançar os objetivos traçados inicialmente.

(os 10 mandamentos do trabalho em equipe foram inspirados no trabalho de Alberto Brisola, sobre como identificar a necessidade de trabalho em equipe).