terça-feira, 26 de outubro de 2010

Quais são os limites de um músico?

Hoje pela manhã fui surpreendido por um post muito interessante e que não tinha como não ser replicado aqui. Trata-se de um desabafo de Andreas Kisser, lendário guitarrista do Sepultura sobre a postura retrógrada e infantil de alguns fãs que tentam controlar e limitar a carreira de seus ídolos.

Já falei sobre este assunto algumas vezes, mas Andreas, ao tratar do assunto com conhecimetno de causa, expõe o universo de possibilidades quando surgem as parcerias musicais.
Segue o texto e o link para a postagem original:

http://colunistas.yahoo.net/posts/5906.html

Por Andreas Kisser . 23.10.10 - 12h26

Nesta última quarta-feira (20), a MTV Brasil fez uma grande festa no Rio de Janeiro para comemorar seus 20 anos de história, que é muita rica e de muito sucesso. Para a festa, foi preparado um palco com duas baterias, vários amplificadores e microfones, que esperavam uma seleção de músicos que fizeram parte destes 20 anos, para uma jam histórica. Passaram pelo palco, entre outros, Jorge Benjor, Caetano Veloso, Skank, Paralamas, Branco Mello, Pitty, Otto, Frejat, Davi Moraes, Maria Gadu e um show exclusivo, fantástico, do Planet Hemp, reagrupado especialmente para a ocasião. Foi uma grande festa, fui convidado para tocar alguns temas e tive o privilégio de dividir o palco com estes monstros da música brasileira.

Como muita gente sabe, eu toco com todo mundo, não importa o estilo, eu gosto da experiência e do desafio de colocar a minha guitarra em outros “planetas” da música. Ao contrário do que muitos imaginam, estes encontros musicais geralmente rolam naturalmente, fruto do encontro casuais nos backstages da vida, e não somente mediante pagamento de suntosos cachês. As coisas acontecem trocando ideias, conversando e tocando, tudo muito saudável. Mas, fazendo isso, eu recebo muitas críticas, principalmente sendo um músico do mundo metal. A maioria das críticas são positivas, mas muitas são negativas e até certo ponto bem agressivas.

Só pra citar o exemplo da festa da MTV e a sua repercussão, eu senti a resposta, ou feedback, através do meu Twitter (@andreaskisser) e como disse, muitas foram bem positivas, curtindo as misturas e entendendo bem a proposta da celebração; outras nem tanto. Não pretento agradar a todo mundo e nem é a minha intenção que todos pensem da mesma forma que eu, mas as coisas chegam num ponto em que sinto que estou até insultando alguém com as parcerias inusitadas que faço. Por que isso? Eu realmente não entendo este sentimento das pessoas que tentam limitar a minha liberdade de expressão, dentro e fora da música, me julgando e me agredindo verbalmente só porque não gosta ou não entende a mistura. O que seria da música se não houvessem as parcerias, as misturas, os desafios? Qual o limite que o músico tem para agir e crescer? O que realmente significa “estilo musical”? Este tipo de conceito limita a interação entre os músicos, cria esteriótipos e afasta as pessoas umas das outras criando grupinhos que se acham melhores do que o resto do mundo. Para mim, isso sempre foi ridículo, na música não podem existir fronteiras, música não é política, ela é livre.

Cito aqui alguns exemplos – que também me inspiraram na maneria de ser e agir como músico -, e são conhecidos e admirados por aqueles que realmente respeitam a música:
O grande tenor Luciano Pavarotti foi um mestre no que diz respeito à quebra de preconceitos. Vindo do mundo erudito, que também é super radical, ele abriu o seu palco para outros estilos e juntou a sua voz a de vários artistas ditos populares, inclusive fazendo parcerias com nomes da música brasileira, como Roberto Carlos e Maria Bethânia, além de U2, Queen, Bon Jovi, Lou Reed, Elton John, Spice Girls, entre tantos outros artistas de muitos “estilos” diferentes. Se Luciano Pavarotti tivesse cedido aos limites da tradição clássica e o radicalismo de alguns maestros, que se sentem donos da música, ele nunca teria feito estas experiências, foi rebelde, teve um espírito mais rock and roll!

Phil Collins, lendário baterista e vocalista do Genesis, foi o grande nome do festival Live Aid, em 1985. O festival foi feito para arrecadar fundos para a luta contra a fome na África e artistas do mundo inteiro se juntaram, em partes diferentes do planeta, para tocar e atrair a atenção das pessoas para o problema. Phil Collins fez o seu show e tocou com todo mundo, inclusive viajando da Europa para os Estados Unidos paara tocar. Se juntou a Led Zeppelin, Elton John, Sting e Eric Clapton, só pra citar alguns. Mostrou muita vontade e amor no que faz, inspirou a todos, quebrou barreiras e preconceitos, fazendo da música o laço mais forte para a união das pessoas em torno de um problema tão sério e delicado, que aliás até hoje perdura a fome em várias regiões do mundo, apesar dos esforços.

Mike Patton, o incrível vocalista e performer do Faith no More, é um viciado em projetos. Além da banda que projetou o seu nome no mundo da música, ele fez vários outros projetos que mostraram toda a versatilidade deste gênio. O Mr. Bungle, Tomahawk, Fantomas, Peeping Tom e mais recentemente o Mondo Cane, que é um projeto em que ele canta somente clássicos da música italiana acompanahdo por uma orquestra, são alguns das maluquices maravilhosas que Patton produz. Ele também gravou com Bebel Gilberto e Björk, e trabalhou com o Sepultura nos álbuns Roots e Sepulnation.

Bom, exemplos é o que não faltam para mostrar a liberdade de expressão que pode ser vivida dentro da música, da diversidade de linguagens que ela possibilta e do poder de união que ela tem. O mínimo que pode ser feito é respeitar esta condição e explorá-la ao máximo. Ficar preso a barreiras e limitar o seu potencial é ignorância pura e só leva a estagnação, não estimula a evolução, tão natural e nescessária na arte. Não julgue somente, destruir é fácil, já a construção é outra história. Participe, aja, toque!

Abraço, play it loud!

Andreas Kisser

terça-feira, 15 de junho de 2010

Saiba mais sobre a nova lei de direito autoral

A proposta de revisão da lei de direito autoral no Brasil segue uma tendência mundial: não é possível, no mundo atual, manter certas idéias concebidas numa época pré-internet, pré-digital.

O Ministério da Cultura (MinC) liberou ontem para consulta pública o texto que será base da nova lei. O texto fica aberto por 45 dias (de 14/06 a 28/07/2010), período em que recebe propostas e contribuições. Depois, uma equipe do ministério irá reformulá-lo. O processo deverá se encerrar no final deste ano.

Segue um resumo das novas propostas:

O que muda para o Autor:

Maior controle da própria obra: o novo texto torna explícito o conceito de licença (autorização para uso sem transferência de titularidade). No caso dos contratos de edição, necessários para exploração comercial das obras, não serão admitidas cláusulas de cessão de direitos. A cessão de direitos terá de ser feita em contrato específico para isso.

Reconhecimento de autoria: arranjadores e orquestradores, na música, e diretores, roteiristas e compositores da trilha sonora original, nas obras audiovisuais, passam a ser reconhecidos de forma mais clara como autores das obras.

Obra encomendada: o criador poderá recobrar o direito em certos casos; terá garantia de participação em usos futuros não previstos; e poderá publicá-la em obras completas.

Prazo de proteção das obras: continua de 70 anos. Nas obras coletivas, será de 70 anos a partir de sua publicação.

Supervisão das entidades de gestão coletiva: associações de todas as categorias e o escritório central de arrecadação e distribuição de direitos de execução musical devem buscar eficiência operacional, por meio da redução dos custos administrativos e dos prazos de distribuição dos valores aos titulares de direitos; dar publicidade de todos os atos da instituição, particularmente os de arrecadação e distribuição. Elas terão ainda de manter atualizados e disponíveis o relatório anual de suas atividades; o balanço anual completo, com os valores globais recebidos e repassados; e o relatório anual de auditoria externa de suas contas.

Instância para resolução de conflitos: será criada uma instância voluntária de resolução de conflitos no âmbito do Ministério da Cultura. Hoje, conflitos relacionados aos direitos autorais só podem ser resolvidos na justiça comum.

O que muda para os cidadãos:

Acesso à cultura e ao conhecimento: haverá novas permissões para uso de obras sem necessidade de pagamento ou autorização. Entre elas: para fins didáticos; cineclubes passam a ter permissão para exibirem filmes quando não haja cobrança de ingressos; adaptar e reproduzir, sem finalidade comercial, obras em formato acessível para pessoas com deficiência.

Reprodução de obra esgotada: está permitida a reprodução, sem finalidade comercial, das obras com a última publicação esgotada e também que não têm estoque disponível para venda.

Reprografia de livros: haverá incentivo para autores e editoras disponibilizarem suas obras para reprodução por serviços reprográficos comerciais, como as copiadoras das universidades. Cria-se para isso a exigência de que haja o licenciamento das obras com a garantia de pagamento de uma retribuição a autores e editores.

Cópias para usos privados: autorizadas as cópias para utilização individual e não comercial das obras. Por exemplo, as cópias de segurança (backup); as feitas para tornar o conteúdo perceptível em outro tipo de equipamento, isto é, para fins de portabilidade e interoperabilidade de arquivos digitais. Medidas tecnológicas de proteção (dispositivos que impedem cópias) não poderão bloquear esses atos.

Segurança para o patrimônio histórico e cultural: instituições que cuidam desse patrimônio poderão fazer reproduções necessárias à conservação, preservação e arquivamento de seu acervo e permitir o acesso a essas obras em suas redes internas de informática. Não se trata de colocar as obras disponíveis na internet para acesso livre.

O que muda para os investidores:

Punição para quem paga jabá: o pagamento a rádios e televisões para que aumentem a execução de certas músicas será alvo de punição, caracterizada como infração à ordem econômica e ao direito de acesso à diversidade cultural.

Remuneração aos produtores de obras audiovisuais: produtores de obras audiovisuais passam a ter direito de remuneração pela exibição em cinemas e emissoras de televisões.

Permissão para explorar obras de acesso restrito: passam a ter a possibilidade de pedir uma autorização para comercializar obras que estejam inacessíveis ou com acesso restrito. Para isso, devem solicitar ao Estado a licença não voluntária da obra.

Estímulo a novos modelos de negócios no ambiente digital: prevê claramente direitos em redes digitais, definindo a modalidade de uso interativo de obras e a quem cabe sua titularidade. As mudanças no texto darão mais segurança para que os titulares se organizem para exercerem seus direitos e melhorarão a relação entre autores, usuários, consumidores e investidores. Dessa forma, essa revisão já coloca o funcionamento da economia digital no Brasil no rumo certo e prepara as bases para uma discussão mais ampla, que deverá ser feita nos próximos anos no mundo todo.

Com base nas contribuições recebidas, o governo federal consolidará o texto final do anteprojeto de lei que será encaminhado ao Congresso Nacional ainda em 2010.

O texto na íntegra pode ser encontrado no site do MinC: www.cultura.gov.br. Para participar da consulta pública, basta acessar o site www.cultura.gov.br/consultadireitoautoral/consulta.

* As informações são do Ministério da Cultura.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Para refletir sobre a PROFISSÃO de músico

Festa social, todo mundo com copo de wisky na mão. Dois sujeitos conversam:

- Olá, tudo bem?
- Sim, e vc, como vai?
- Vou bem. Me disseram que vc é músico?
- Sim.
- Nossa, e que instrumento vc toca?
- Toco ZABUMBA.
- E toca em quais orquestras?
- Na OSESP e na OSUSP e free lancers.
- Que beleza, hein? Deve ser cansativo, nao?
- É o trabalho, ne?
- Realmente, admiro vcs músicos, grande profissão essa. Até queria que meu filho fizesse música, mas o garoto nao tem jeito, insiste que quer ser médico ou advogado.
- Ah, hoje em dia é assim, a garotada nao tem jeito. Mas, e vc, o que faz da vida?
- Eu sou médico.
- Jura? Mas como assim?
- Trabalho no Hospital das Clínicas.
- Clínicas, não conheço. E faz o que lá?
- Sou cardiologista.
- Mas vc tem um emprego não tem?
- Então, trabalho no hospital.
- Nas horas vagas?
- Não. Esse é o meu emprego.
- Mas ganha pra isso?
- Ganho sim, dá pra viver.
- E vc não estudou? Não quis saber de faculdade?
- Estudei, fiz faculdade de medicina.
- Ah, é? Não sabia que tinha. Que interessante. Sabe, eu fui médico amador quando era jovem, uma vez fiz até uma operação num rapaz que tinha sido atropelado. Usei uma flanela de carro pra estancar o sangue e uma faca pra abrir a barriga do rapaz e parar a hemorragia. Eu até gostava, mas nao levava muito jeito pra coisa. E aí minha mãe até disse: "Larga disso, garoto, vai estudar música".
- É, queria ter tido uma mãe assim.

ps: Pois é, ninguém é médico amador, engenheiro amador, advogado amador. MAS TODO MUNDO É MÚSICO AMADOR!!!!!!