terça-feira, 26 de outubro de 2010

Quais são os limites de um músico?

Hoje pela manhã fui surpreendido por um post muito interessante e que não tinha como não ser replicado aqui. Trata-se de um desabafo de Andreas Kisser, lendário guitarrista do Sepultura sobre a postura retrógrada e infantil de alguns fãs que tentam controlar e limitar a carreira de seus ídolos.

Já falei sobre este assunto algumas vezes, mas Andreas, ao tratar do assunto com conhecimetno de causa, expõe o universo de possibilidades quando surgem as parcerias musicais.
Segue o texto e o link para a postagem original:

http://colunistas.yahoo.net/posts/5906.html

Por Andreas Kisser . 23.10.10 - 12h26

Nesta última quarta-feira (20), a MTV Brasil fez uma grande festa no Rio de Janeiro para comemorar seus 20 anos de história, que é muita rica e de muito sucesso. Para a festa, foi preparado um palco com duas baterias, vários amplificadores e microfones, que esperavam uma seleção de músicos que fizeram parte destes 20 anos, para uma jam histórica. Passaram pelo palco, entre outros, Jorge Benjor, Caetano Veloso, Skank, Paralamas, Branco Mello, Pitty, Otto, Frejat, Davi Moraes, Maria Gadu e um show exclusivo, fantástico, do Planet Hemp, reagrupado especialmente para a ocasião. Foi uma grande festa, fui convidado para tocar alguns temas e tive o privilégio de dividir o palco com estes monstros da música brasileira.

Como muita gente sabe, eu toco com todo mundo, não importa o estilo, eu gosto da experiência e do desafio de colocar a minha guitarra em outros “planetas” da música. Ao contrário do que muitos imaginam, estes encontros musicais geralmente rolam naturalmente, fruto do encontro casuais nos backstages da vida, e não somente mediante pagamento de suntosos cachês. As coisas acontecem trocando ideias, conversando e tocando, tudo muito saudável. Mas, fazendo isso, eu recebo muitas críticas, principalmente sendo um músico do mundo metal. A maioria das críticas são positivas, mas muitas são negativas e até certo ponto bem agressivas.

Só pra citar o exemplo da festa da MTV e a sua repercussão, eu senti a resposta, ou feedback, através do meu Twitter (@andreaskisser) e como disse, muitas foram bem positivas, curtindo as misturas e entendendo bem a proposta da celebração; outras nem tanto. Não pretento agradar a todo mundo e nem é a minha intenção que todos pensem da mesma forma que eu, mas as coisas chegam num ponto em que sinto que estou até insultando alguém com as parcerias inusitadas que faço. Por que isso? Eu realmente não entendo este sentimento das pessoas que tentam limitar a minha liberdade de expressão, dentro e fora da música, me julgando e me agredindo verbalmente só porque não gosta ou não entende a mistura. O que seria da música se não houvessem as parcerias, as misturas, os desafios? Qual o limite que o músico tem para agir e crescer? O que realmente significa “estilo musical”? Este tipo de conceito limita a interação entre os músicos, cria esteriótipos e afasta as pessoas umas das outras criando grupinhos que se acham melhores do que o resto do mundo. Para mim, isso sempre foi ridículo, na música não podem existir fronteiras, música não é política, ela é livre.

Cito aqui alguns exemplos – que também me inspiraram na maneria de ser e agir como músico -, e são conhecidos e admirados por aqueles que realmente respeitam a música:
O grande tenor Luciano Pavarotti foi um mestre no que diz respeito à quebra de preconceitos. Vindo do mundo erudito, que também é super radical, ele abriu o seu palco para outros estilos e juntou a sua voz a de vários artistas ditos populares, inclusive fazendo parcerias com nomes da música brasileira, como Roberto Carlos e Maria Bethânia, além de U2, Queen, Bon Jovi, Lou Reed, Elton John, Spice Girls, entre tantos outros artistas de muitos “estilos” diferentes. Se Luciano Pavarotti tivesse cedido aos limites da tradição clássica e o radicalismo de alguns maestros, que se sentem donos da música, ele nunca teria feito estas experiências, foi rebelde, teve um espírito mais rock and roll!

Phil Collins, lendário baterista e vocalista do Genesis, foi o grande nome do festival Live Aid, em 1985. O festival foi feito para arrecadar fundos para a luta contra a fome na África e artistas do mundo inteiro se juntaram, em partes diferentes do planeta, para tocar e atrair a atenção das pessoas para o problema. Phil Collins fez o seu show e tocou com todo mundo, inclusive viajando da Europa para os Estados Unidos paara tocar. Se juntou a Led Zeppelin, Elton John, Sting e Eric Clapton, só pra citar alguns. Mostrou muita vontade e amor no que faz, inspirou a todos, quebrou barreiras e preconceitos, fazendo da música o laço mais forte para a união das pessoas em torno de um problema tão sério e delicado, que aliás até hoje perdura a fome em várias regiões do mundo, apesar dos esforços.

Mike Patton, o incrível vocalista e performer do Faith no More, é um viciado em projetos. Além da banda que projetou o seu nome no mundo da música, ele fez vários outros projetos que mostraram toda a versatilidade deste gênio. O Mr. Bungle, Tomahawk, Fantomas, Peeping Tom e mais recentemente o Mondo Cane, que é um projeto em que ele canta somente clássicos da música italiana acompanahdo por uma orquestra, são alguns das maluquices maravilhosas que Patton produz. Ele também gravou com Bebel Gilberto e Björk, e trabalhou com o Sepultura nos álbuns Roots e Sepulnation.

Bom, exemplos é o que não faltam para mostrar a liberdade de expressão que pode ser vivida dentro da música, da diversidade de linguagens que ela possibilta e do poder de união que ela tem. O mínimo que pode ser feito é respeitar esta condição e explorá-la ao máximo. Ficar preso a barreiras e limitar o seu potencial é ignorância pura e só leva a estagnação, não estimula a evolução, tão natural e nescessária na arte. Não julgue somente, destruir é fácil, já a construção é outra história. Participe, aja, toque!

Abraço, play it loud!

Andreas Kisser

terça-feira, 15 de junho de 2010

Saiba mais sobre a nova lei de direito autoral

A proposta de revisão da lei de direito autoral no Brasil segue uma tendência mundial: não é possível, no mundo atual, manter certas idéias concebidas numa época pré-internet, pré-digital.

O Ministério da Cultura (MinC) liberou ontem para consulta pública o texto que será base da nova lei. O texto fica aberto por 45 dias (de 14/06 a 28/07/2010), período em que recebe propostas e contribuições. Depois, uma equipe do ministério irá reformulá-lo. O processo deverá se encerrar no final deste ano.

Segue um resumo das novas propostas:

O que muda para o Autor:

Maior controle da própria obra: o novo texto torna explícito o conceito de licença (autorização para uso sem transferência de titularidade). No caso dos contratos de edição, necessários para exploração comercial das obras, não serão admitidas cláusulas de cessão de direitos. A cessão de direitos terá de ser feita em contrato específico para isso.

Reconhecimento de autoria: arranjadores e orquestradores, na música, e diretores, roteiristas e compositores da trilha sonora original, nas obras audiovisuais, passam a ser reconhecidos de forma mais clara como autores das obras.

Obra encomendada: o criador poderá recobrar o direito em certos casos; terá garantia de participação em usos futuros não previstos; e poderá publicá-la em obras completas.

Prazo de proteção das obras: continua de 70 anos. Nas obras coletivas, será de 70 anos a partir de sua publicação.

Supervisão das entidades de gestão coletiva: associações de todas as categorias e o escritório central de arrecadação e distribuição de direitos de execução musical devem buscar eficiência operacional, por meio da redução dos custos administrativos e dos prazos de distribuição dos valores aos titulares de direitos; dar publicidade de todos os atos da instituição, particularmente os de arrecadação e distribuição. Elas terão ainda de manter atualizados e disponíveis o relatório anual de suas atividades; o balanço anual completo, com os valores globais recebidos e repassados; e o relatório anual de auditoria externa de suas contas.

Instância para resolução de conflitos: será criada uma instância voluntária de resolução de conflitos no âmbito do Ministério da Cultura. Hoje, conflitos relacionados aos direitos autorais só podem ser resolvidos na justiça comum.

O que muda para os cidadãos:

Acesso à cultura e ao conhecimento: haverá novas permissões para uso de obras sem necessidade de pagamento ou autorização. Entre elas: para fins didáticos; cineclubes passam a ter permissão para exibirem filmes quando não haja cobrança de ingressos; adaptar e reproduzir, sem finalidade comercial, obras em formato acessível para pessoas com deficiência.

Reprodução de obra esgotada: está permitida a reprodução, sem finalidade comercial, das obras com a última publicação esgotada e também que não têm estoque disponível para venda.

Reprografia de livros: haverá incentivo para autores e editoras disponibilizarem suas obras para reprodução por serviços reprográficos comerciais, como as copiadoras das universidades. Cria-se para isso a exigência de que haja o licenciamento das obras com a garantia de pagamento de uma retribuição a autores e editores.

Cópias para usos privados: autorizadas as cópias para utilização individual e não comercial das obras. Por exemplo, as cópias de segurança (backup); as feitas para tornar o conteúdo perceptível em outro tipo de equipamento, isto é, para fins de portabilidade e interoperabilidade de arquivos digitais. Medidas tecnológicas de proteção (dispositivos que impedem cópias) não poderão bloquear esses atos.

Segurança para o patrimônio histórico e cultural: instituições que cuidam desse patrimônio poderão fazer reproduções necessárias à conservação, preservação e arquivamento de seu acervo e permitir o acesso a essas obras em suas redes internas de informática. Não se trata de colocar as obras disponíveis na internet para acesso livre.

O que muda para os investidores:

Punição para quem paga jabá: o pagamento a rádios e televisões para que aumentem a execução de certas músicas será alvo de punição, caracterizada como infração à ordem econômica e ao direito de acesso à diversidade cultural.

Remuneração aos produtores de obras audiovisuais: produtores de obras audiovisuais passam a ter direito de remuneração pela exibição em cinemas e emissoras de televisões.

Permissão para explorar obras de acesso restrito: passam a ter a possibilidade de pedir uma autorização para comercializar obras que estejam inacessíveis ou com acesso restrito. Para isso, devem solicitar ao Estado a licença não voluntária da obra.

Estímulo a novos modelos de negócios no ambiente digital: prevê claramente direitos em redes digitais, definindo a modalidade de uso interativo de obras e a quem cabe sua titularidade. As mudanças no texto darão mais segurança para que os titulares se organizem para exercerem seus direitos e melhorarão a relação entre autores, usuários, consumidores e investidores. Dessa forma, essa revisão já coloca o funcionamento da economia digital no Brasil no rumo certo e prepara as bases para uma discussão mais ampla, que deverá ser feita nos próximos anos no mundo todo.

Com base nas contribuições recebidas, o governo federal consolidará o texto final do anteprojeto de lei que será encaminhado ao Congresso Nacional ainda em 2010.

O texto na íntegra pode ser encontrado no site do MinC: www.cultura.gov.br. Para participar da consulta pública, basta acessar o site www.cultura.gov.br/consultadireitoautoral/consulta.

* As informações são do Ministério da Cultura.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Para refletir sobre a PROFISSÃO de músico

Festa social, todo mundo com copo de wisky na mão. Dois sujeitos conversam:

- Olá, tudo bem?
- Sim, e vc, como vai?
- Vou bem. Me disseram que vc é músico?
- Sim.
- Nossa, e que instrumento vc toca?
- Toco ZABUMBA.
- E toca em quais orquestras?
- Na OSESP e na OSUSP e free lancers.
- Que beleza, hein? Deve ser cansativo, nao?
- É o trabalho, ne?
- Realmente, admiro vcs músicos, grande profissão essa. Até queria que meu filho fizesse música, mas o garoto nao tem jeito, insiste que quer ser médico ou advogado.
- Ah, hoje em dia é assim, a garotada nao tem jeito. Mas, e vc, o que faz da vida?
- Eu sou médico.
- Jura? Mas como assim?
- Trabalho no Hospital das Clínicas.
- Clínicas, não conheço. E faz o que lá?
- Sou cardiologista.
- Mas vc tem um emprego não tem?
- Então, trabalho no hospital.
- Nas horas vagas?
- Não. Esse é o meu emprego.
- Mas ganha pra isso?
- Ganho sim, dá pra viver.
- E vc não estudou? Não quis saber de faculdade?
- Estudei, fiz faculdade de medicina.
- Ah, é? Não sabia que tinha. Que interessante. Sabe, eu fui médico amador quando era jovem, uma vez fiz até uma operação num rapaz que tinha sido atropelado. Usei uma flanela de carro pra estancar o sangue e uma faca pra abrir a barriga do rapaz e parar a hemorragia. Eu até gostava, mas nao levava muito jeito pra coisa. E aí minha mãe até disse: "Larga disso, garoto, vai estudar música".
- É, queria ter tido uma mãe assim.

ps: Pois é, ninguém é médico amador, engenheiro amador, advogado amador. MAS TODO MUNDO É MÚSICO AMADOR!!!!!!

terça-feira, 11 de agosto de 2009

O fim do salto alto

Há muito tempo venho percebendo uma mudança no visual extravagante que muitos músicos usavam no começo dos aos 90 e que se estendeu até meados dos anos 2000. Agora, já no final da década, vejo que o salto baixou e muitos cantores e instrumentistas não se mostram mais como deuses intocáveis, mas apenas como talentosos e virtuosos que são.

Com o passar dos anos - até por tê-los como referência - fui acompanhando a mudança de visual de cada um. Nos anos 80, todos usavam botas, calças e coletes de couro, cabelos longos e um semblante sisudo, faltando apenas um pedestal para que fossem endeusados pela plasticidade de seus movimentos, velocidade de suas palhetadas e ligaduras ou tonalidade que suas vozes alcançavam. Hoje, mais pé no chão e com suas carreiras consolidadas, embora já não sob os holofotes do Mainstream, estes artistas se portam como músicos muito mais simpáticos, menos egocêntricos e com visual mais clean. *Dá até para desconfiar se isso tem a ver com maturidade ou se é crise de meia idade mesmo...

Muito bem, a verdade é que uma vez passada a onda Poser dos anos 80, o Grunge e seu minimalismo nos anos 90, todos perceberam que o visual é sim, importante, como já citei aqui anteriormente, mas com o surgimento de novos artistas e mídias como a Internet, onde todos estão cada vez mais próximos de seu público, artistas de "grande porte" têm que se adaptar e por os pés no chão. Se adequarem aos patamares da nova geração, falando a mesma língua. Insistir em um visual e uma sonoridade retrô, talvez mantenha os fãs de antigamente (ou nem eles), mas não conquistará provavelmente uma grande parcela da geração Y, a conhecida Geração Internet.

É comum vermos os artistas de antigamente, que andavam dentro de uma redoma, serem vistos com suas bermudas, camisetas e tênis, algo muito diferente do visual citado acima. Já é possível acreditar que estes caras fazem compras no supermercado, vão ao banheiro, têm seus próprios ídolos e que assistem às mesmas séries que nós; aliás, assistem, pois quem acompanha algum artista no Twitter ou em um blog pessoal, percebe que seus gostos são muito parecidos com o de qualquer um e mostram em reality shows ou em seus posts diários que ser normal é a bola da vez.

A única coisa que nos separa deles, e isso é algo que cada um tem que correr atrás, é a dedicação ao instrumento e os caminhos percorridos até chegarem onde estão hoje. Mas com a Internet isso está cada vez mais perto de cada um de nós. Se hoje o visual não exige o cabelo com laquê, dedique-se, acredite, faça bem feito e nunca esqueça o principal: A essência da música dentro de você.

Até a próxima!

sexta-feira, 17 de julho de 2009

MPF pede que Supremo acabe com regulamentação da profissão de músico

A procuradora-geral da República interina, Deborah Duprat, propôs uma ação no STF (Supremo Tribunal Federal) para acabar com a regulamentação da profissão de músico. Duprat, que ocupa o cargo até a posse do novo procurador-geral, Roberto Gurgel, pretende que o Supremo considere incompatível com a Constituição a Lei 3.857/60, que criou a OMB (Ordem dos Músicos do Brasil) e estabeleceu requisitos para o exercício da atividade.

A argumentação utilizada na ADPF (Arguição de descumprimento de preceito fundamental) 183 é semelhante a que levou ao fim da exigência de diploma para os jornalistas. Depois dessa decisão, o presidente do Supremo, ministro Gilmar Mendes, afirmou que outras profissões deveriam ser desregulamentadas.

Para a procuradora, tanto as restrições profissionais, como a fiscalização da atividade com poder de polícia são incompatíveis com a liberdade de expressão artística e com a liberdade profissional.

“Numa democracia constitucional, não cabe ao Estado policiar a arte, nem existe justificativa legítima que ampare a imposição de quaisquer requisitos para o desempenho da profissão de músico”, afirma Deborah Duprat.

A procuradora ressalta que a manifestação artística é um dos campos mais relevantes da atividade humana, em especial a música, e ataca a exigência de filiação à OMB. “Da mesma maneira, é indiscutível a ofensa à liberdade de expressão consubstanciada na atribuição a orgão estatal do poder de disciplinar, fiscalizar e punir pessoas em razão do exercício de sua atividade artística”, observa.

Ela acrescenta ainda que a profissão de músico não pode ser regulamentada, pois não está entre as quais a Constituição Federal autorizou o legislador a estabelecer pré-qualificações —outro argumento que sustentou a queda do diploma para jornalistas.

“Se um profissional for um mau músico, nenhum dano significativo causará à sociedade. Na pior das hipóteses, as pessoas que o ouvirem passarão alguns momentos desagradáveis. Além do que, em matéria de arte, o que é péssimo para alguns pode ser excelente para outros, não cabendo ao Estado imiscuir-se neste seara, convertendo-se no árbitro autoritário dos gostos do público”, adverte.

A procuradora-geral afirma também que a escolha e o exercício da profissão representam uma garantia contra a intromissão indevida dos poderes públicos num campo reservado à autonomia existencial do indivíduo. No entanto, ressalvou que esse direito não é absoluto, já que algumas profissões lidam com questões sensíveis da coletividade e demandam conhecimentos técnicos —o que não é o caso dos músicos.

Os dispositivos questionados pela ADPF são os artigos 1º (parcial); 16; 17, caput (parcial) e parágrafos 2º e 3º; 18; 19; 28; 29; 30; 31; 32; 33; 34; 35; 36; 37; 38; 39; 40; 49, caput; 50; 54, alínea b (parcial); e 55 (parcial) da Lei n° 3857/60.

A procuradora-geral pede a suspensão desses dispositivos, até o julgamento final da ação, porque “essa normas criam inadmissíveis embaraços aos músicos profissionais- sobretudo para os mais pobres, sem formação musical formal, e que muitas vezes não dispõem dos recursos para pagar sua anuidade – dificultando o exercício a sua profissão e cerceando o seu direito à livre expressão artística. E privam toda a sociedade do acesso à obra destes artistas”.

Com informações da PGR.

sexta-feira, 29 de maio de 2009

O número de músicos profissionais explode no Brasil. A dependência do Estado, também.

No país em que caixinha de fósforo virou instrumento de percussão, é de se  esperar que os músicos sempre tenham sido muitos. E bons.

Mas um fenômeno tem chamado a atenção. Se, em 1992, havia 50 mil músicos  profissionais no Brasil, em 2006 esse número saltou para 118 mil.

Outros dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) atestam o  avanço dessa profissão que, a despeito do grande número de adeptos, é exercida  em condições precárias e depende muito do apoio estatal.

Para se ter uma ideia:

- Entre 1992 e 2001, o número de pessoas ocupadas cresceu 16% no Brasil. No  setor de artes espetáculos, o salto foi de 67%. Metade desse universo é  representado por músicos.

- No ano 2000, houve 894 matrículas em cursos superiores de música. Em 2005,  foram 5,2 mil matrículas.

- Apenas 10% dos músicos têm emprego formal. Quase todos os que têm vínculo  empregatício trabalham em orquestras ou são professores.

- A Cooperativa de Música registrava, em 2003, 26 cooperados. Hoje, são mais  de mil.

- Enquanto apenas 8% da população brasileira tem curso superior completo,  entre os músico esse índice salta para 63%.

- 82% dos músicos são do sexo masculino. No caso das mulheres, o instrumento  é, quase sempre, a voz.

Esses dados foram apresentados ontem à tarde pela socióloga Liliana Segnini,  professora da Unicamp, no V Encontro de Estudos Multidisciplinares em Cultura  (Enecult), que acontece até amanhã em Salvador.

Para realizar o trabalho, ela debruçou-se sobre os participantes do programa  Rumos, do Itaú Cultural, um dos mais importantes do País – ao  lado do Prêmio Visa e do Projeto Pixinguinha.

Foram ouvidos 39 artistas selecionados num universo de 2,2 mil inscritos.

A ideia era descobrir em que momento a música deixa de ser hobby para virar  profissão e de que maneira a sociedade brasileira encara esse ofício.

Liliana tentou recuperar o pensamento do sociólogo alemão Norbert Elias que,  ao falar de Mozart, procurou entender quais eram as pressões sociais para que um  músico trabalhasse na corte.

Uma frase escrita por Elias mantém-se intacta:

- Um músico quer ser socialmente reconhecido como artista e ser, ao mesmo  tempo, capaz de alimentar sua família.

Liliana, nas entrevistas, percebeu que a instabilidade faz parte da  rotina:

- Predominam as formas instáveis e intermitentes. Muitos, mesmo sendo músicos  profissionais, exercem outras atividades, como contador, diagramador de jornal,  artista visual etc. Havia até mesmo um trabalhador agrícola, que faz música de  raiz.

Muitos citam a necessidade constante de “fazer um cachê”, que significa  trabalhar na noite.

Trata-se de uma atividade instável, mal remunerada e, em certa medida,  frustrante, já que, num bar, o público está mais interessado em beber e  conversar do que em ouvi-los.

Também foram recorrentes, nas entrevistas, referências a sofrimento psíquico  e casos de depressão.

A pesquisadora descobriu, por exemplo, a síndrome do músico estressado.  Nesses casos, o cérebro, simplesmente, deixa de mandar estímulos para os dedos e  a execução da partitura torna-se impossível.

Más condições de trabalho à parte, a pesquisa com os selecionados do Rumos  revelou que, para todos eles, a internet é um veículo transformador, uma foram  de libertação da libertação da engrenagem industrial.

Liliana espantou-se, por exemplo, com o grupo Móveis Coloniais de Acaju, de Brasília, um fenômeno nascido da internet:

- No dia do show, havia uma fila de dois quarteirões no Itaú Cultural, na  avenida Paulista. O público sabia deles. Nós, pesquisadores, é que éramos os alienados.

Apesar dos casos de sucesso, a socióloga é menos empolgada com a nova  realidade do que os músicos com quem conversou:

- Se eu me ativer à fala deles, direi que as gravadoras estão acabando e que  todos poderão criar, produzir e distribuir por meio da internet. Mas, em tantos  anos de pesquisa social, não canso de me espantar com o poder de reconfiguração  do capital.

Curiosamente, na mesma medida em que miram o mercado, muitos músicos são  absolutamente dependentes dos editais públicos e dos recursos vindos das leis de  incentivo fiscal.

Para Liliana, a exemplo do que aconteceu na década de 1930, o Estado  brasileiro passou a fomentar a formação e a produção musical:

- Levanto a hipótese de que o Estado tem um papel fundamental nesse novo  cenário da música. Seja pelas leis de incentivo, seja pela criação de escolas e  universidade de músicas, voltamos a ver um Estado presente.

E, sem dúvida, há que se considerar também o que o norte-americano Chris  Anderson, editor da revista Wired, chamou de fenômeno da “cauda longa”.  

Na era da internet, a oferta aumentou de tal modo que, cada vez mais, a  cultura se desenha em forma de nichos.

No lugar dos grandes hits embalados pela indústria, surgiram, nestes anos  2000, os “micro-hits”, os pequenos fenômenos que conseguiram encontrar o seu  público.

Não será essa nova realidade um outro estímulo à (tentativa de)  profissionalização?

Matéria publicada no site Terra  no dia 29 de maio.

terça-feira, 19 de maio de 2009

A democracia do áudio (Login, Senha e Play)

Texto desenvolvido por: Tuca Hernandes

Sabe as músicas daquela banda norueguesa de rock que jamais tocarão em nossas rádios? Ou então aquela gravação caseira que o John Lennon fez alguns anos depois que os Beatles acabaram? Anos atrás, até meados da década de 90, seriam raridades que ouviríamos após uma busca intensa de CDs, fitas cassetes ou discos de vinil em sebos, lojas especializadas, importadoras, clubes de colecionadores e outros locais de garimpagem cultural. Dessa forma, somente os muito aficcionados conseguiam ampliar seus conhecimentos musicais para além do que as rádios tocavam.

Atualmente, as coisas são bem diferentes. Basta alguns cliques no mouse e pronto: temos praticamente todas as canções do mundo ao nosso alcance, das mais populares até as que foram produzidas no quarto de algum adolescente tailandês, por exemplo. A internet, através das redes sociais, possibilitou o surgimento de uma discoteca vitual em que todos podem compartilhar as suas preferências musicais. Assim, a variedade e quantidade de canções que trafegam na rede através de serviços como o Blip FM e a Last FM torna viável o surgimento daquele DJ que existe em cada um de nós.

No entanto, essa “democracia do áudio” esbarra muitas vezes na questão dos direitos autorais. Ou seja, boa parte das gravadoras não acha nada simpática a festa que acontece nas rádios virtuais, cuja atualização de conteúdo depende somente dos usuários. Afinal, quem autorizou o Geraldo da Silva, internauta de 13 anos do interior do Rio Grande do Sul, a colocar aquela música dos Beatles no Blip Fm? Tocar de graça? Como assim? Aliás, talvez pelo tanto de vezes que tiveram que responder a perguntas desse nível, os responsáveis por esse serviço decidiram recentemente alterar a sua política de uploads, limitando esse recurso apenas para poucos usuários.

Se o clima atualmente é de velório para os defensores do direito autoral, que procuram remover todo e qualquer ruído ilegalmente adicionado na rede, o mesmo não se pode dizer de quem não conta com a proteção onipresente de uma grande gravadora. Bandas novas e artistas do passado que estariam condenados ao ostracismo encontraram nas redes sociais o veículo perfeito para divulgarem a sua obra. Assim, fenômenos como Arctic Monkeys e Mallu Magalhães - ambos descobertos no MySpace - chegaram ao grau de popularidade atual graças ao boca-a-boca - ou seria clique-a-clique? - que os seus fãs promoveram no conforto de casa, diante do computador.

Assim, cada vez mais, somos nós que determinamos o nascimento do próximo ídolo. Para isso, basta que ele tenha uma banda larga e saiba muito bem onde postar aquelas músicas produzidas num estúdio ou quarto qualquer. Ah, e que continue tendo aquilo que é essencial também: o talento. Assim, se for bom o suficiente, ele estará presente na programação de nossas rádios virtuais, mesmo bem antes de ter assinado aquele contrato com a gravadora para a gravação do primeiro disco. Ou, em alguns casos, a primeira série de mp3s protegida por direitos autorais…

A versão original deste post pode ser encontrada em:
Postado em: http://www.polvoracomunicacao.com.br/artigos/a-democracia-do-audio-login-senha-e-play/